Câmbio de paradigma. Um giro no Brasil.
Apresentamos esta exposição coletiva na programação oficial do festival FotoRio 2025. As mudanças de paradigma na arte geralmente acompanham transformações sociais, culturais, políticas e tecnológicas na sociedade. A fotografia, em especial, passou por mudanças profundas nas últimas décadas. A incorporação de câmeras digitais aos dispositivos de consumo e os processos de globalização da informação na era da internet tornaram a fotografia uma forma de expressão quase universal. À medida que deixou de ser uma linguagem de difícil acesso, a produção artística passou a incluir vozes de grupos historicamente silenciados, que até menos de três décadas atrás quase não tinham visibilidade. As desigualdades também se manifestam de forma particularmente acentuada nesse campo, assim como a necessidade de representar o mundo por olhares não ocidentais. Esta exposição surge como um contraponto necessário às visões hegemônicas e propõe inverter a lógica segundo a qual certos grupos de pessoas são sistematicamente representados por outros: os homens fotografam as mulheres, os ocidentais retratam o resto do mundo. A exposição «Câmbio de paradigma. Giro no Brasil» propõe um discurso inclusivo e transnacional, fruto do diálogo entre dois contextos geográficos e culturais: Espanha e Brasil. Nesse sentido, o projeto se vincula ao conceito de giro no Brasil, compreendido como um deslocamento crítico, uma abertura ao outro e uma transformação dos marcos de pensamento, gerando um espaço de encontro e ressonância entre diferentes olhares. Esse giro não é apenas geográfico ou simbólico, mas também epistêmico, estético e político: implica desestabilizar narrativas dominantes, questionar quem olha e quem é olhado, e abrir-se a saberes, corpos e imaginários antes excluídos. Trata-se de um gesto que interpela o cânone, remexe o pensamento hegemônico e reivindica outras formas de ver, sentir e narrar o mundo. Nesse movimento, a exposição se configura como um espaço de escuta e reverberação, onde podem emergir novas possibilidades de relação e imaginação. Sob a curadoria compartilhada de Marta Soul e Ângela Berlinde, a mostra reúne seis artistas espanhóis e quatro brasileiros, além de uma artista local convidada especialmente para esta edição no Rio de Janeiro. A exposição se estrutura em torno dos seguintes eixos temáticos: ● Estruturas políticas dominantes, soberania e capitalismo ● A raça não existe. Justiça para o indivíduo e para a sociedade ● Gênero, identidade e autorrepresentação ● Tecnologia: ideal e medo do progresso ● Ecologia, plantas e animais. Justiça climática e formas de habitar a Terra O conjunto das obras propõe uma transformação na forma de compreender a fotografia, assim como nas maneiras de concebê-la, produzi-la e valorizá-la na contemporaneidade.
