O Lazarillo, a Inquisição e a Reforma Protestante

O Lazarillo de Tormes marca o início de um novo gênero literário: o romance picaresco, de grande importância na literatura espanhola do Século de Ouro. A obra supõe também o começo do romance realista europeu e o início do romance moderno. Esta obra foi publicada por volta de 1554, numa Espanha em convulsão clerical e econômica onde a maioria da população era analfabeta. Teve grande êxito e foi traduzida às principais línguas da época: francês, inglês e italiano. Cinco anos mais tarde, a Inquisição proibiu tanto o Lazarillo tradicional como sua segunda parte, o chamado 'Lazarillo de Amberes'. Em 1573, a mudança do Inquisidor Geral provoca uma sutil modificação: se tolera a publicação do chamado 'Lazarillo castigado pela Inquisição', do qual se elimina o episódio do falso vendedor de bulas e meia dúzia de passagens de tipo heterodoxo. A publicação da segunda parte segue sendo proibida na Espanha até 1615, enquanto sua tradução continua sendo editada. Todos estes dados e evidências indicam a necessidade de revisar as razões ideológicas, doutrinarias e políticas da censura que sofreram as duas partes do Lazarillo até 1834. A finalidade deste encontro é analisar a publicação das duas partes do Lazarillo, sua posterior proibição e censura inquisitorial à luz da confrontação doutrinal entre a Reforma Protestante e a Ortodoxia Católica da época.