Diario de Lisboa, Matilde Ras
O escritor José Luis García Martín, que assina o prólogo do livro e que já traduziu Fernando Pessoa e Eugénio de Andrade, entre outros grandes autores das letras portuguesas contemporâneas, apresenta o diário lisboeta de Matilde Ras, uma das escritoras mais singulares da Idade de Prata da literatura espanhola. No seu diário, cheio de livros, amigos e solidão, recria a Lisboa dos anos quarenta, um oásis na Europa em guerra, o porto ao qual sonhavam chegar todos os perseguidos (como Walter Benjamin, que não passou de Port Bou); também a uma Coimbra na qual coincidiu com o poeta Eugénio de Andrade e na qual o paraíso, na forma de comunidade de amigos dedicados à arte e à literatura, ao amor e à música, longe dos convencionalismos patriarcais, esteve quase a tornar-se uma realidade. Como diz José Luis García Martín no prólogo da meritória e cuidada edição de Renacimiento, ao cargo de María Jesús Fraga, "Leitor: abres as primeiras páginas deste diário e o pano sobe «sobre um imenso e fantástico palco», o desengonçado labirinto dos telhados de Alfama, o azul deslumbrante do rio que quer tornar-se mar. Acomoda-te a vontade no teu assento, relaxa, a função vai começar. Não te arrependerás de ter iniciado uma viagem no tempo pela mão de uma mulher única, à qual quiseram as circunstâncias –a primeira de todas, ser mulher– deixar sempre em segundo plano. Agora avança para nós num livro que ninguém, exceto alguns amigos, leu no seu momento. Escuta o que tem para te dizer, para te sussurrar, nestas notas, nestas amicais confidências, uma secreta obra mestra da literatura autobiográfica"